quarta-feira, 9 de março de 2011

A ÚLTIMA CEIA DE JOSÉ SÓCRATES

Começo por afirmar, sem que haja margem para dúvidas, que não desejo a morte do Sr. Sócrates, e espero que ele tenha muitas mais ceias pela sua vida fora…de robalinho grelhado…e coisas boas do género.
                Não passou despercebida da opinião pública a triste cena em que jovens do movimento ‘Geração à Rasca’, numa atitude bem punk rocker (tipo ‘no future’…Sex Pistols…anos 70) num jantar que seria de apoio a Sócrates, foram empurrados e esbofeteados  desnecessariamente pelos gorilas do Sr. Primeiro-Ministro só por empunharem cartazes e atirarem para o ar umas megafónicas frases que não se destinavam propriamente a louvar o senhor (Sócrates). (Jovens à rasca é um belo pleonasmo, pois jovens que não estão ‘à rasca’, só aqueles ‘jovens agricultores’ cinquentões e sabidões dos subsídios, e os jotinhas dos partidos de poder…todos os outros têm muitos motivos para se sentirem enrascados). Penso até que, no fundo, o que os levou ali foi a necessidade de receber ensinamentos de alguém que, depois de ver o nome tão mencionado em variadíssimos escândalos ligados a corrupção e tráfico de influências (nada provado…nada provado!), nunca se sentiu ‘à rasca’…talvez por já não ser jovem.
                Lembrei-me deste eucarístico título porque a atitude de Sócrates fez-me lembrar muito algumas cenas da vida de Cristo. De facto, após terem sido expulsos do ‘templo’ (não pelo Primeiro-Ministro, note-se), este, num gesto de quase perfeita magnanimidade cristã, grita aos jovens que não se vão embora…que fiquem...bem diz a Bíblia: ‘Felizes os convidados para a ceia do Senhor’. (aqui a comparação é abusiva porque depois de terem levado uns bons bofetões dos cães de fila do Sr. Sócrates, a rapaziada estava bem longe desse estado de felicidade que é a graça de acompanhar o Primeiro-Ministro num jantar. Também se pode ler no livro sagrado: ‘Vinde a mim as criancinhas’ – neste caso, ‘vinde a mim esses jovens descontentes…vinde a mim.’ Mas o gesto mais crístico do sr. Ministro foi quando deu a entender que teria muito prazer em tê-los por companhia no jantar, mesmo depois de ter sido vilipendiado por eles. Que gesto magnânimo! É, ou não é uma verdadeira atitude de ‘dar a outra face’? Há alguma coisa mais cristã do que isto. Sócrates, o rabugento Sócrates, conhecido por se irritar facilmente quando o põem um bocadinho em causa, perdoou publicamente aquele grupo de jovens, e fê-lo com expressões faciais tão…tão pacíficas, iluminadas de piedade.
Diz quem lá esteve que quando Sócrates se sentou, o grupo de pessoas que ficou no banquete (velhos, e jovens que não estão ‘à rasca’) gritaram em uníssono: Ecce Homo!
 Temos Messias!


Noel Petinga Leopoldo

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